“Cancro Ginecológico: Do risco até ao tratamento” foi o tema da Sessão Plenária I, moderada por Sandra Baptista, Enfermeira especialista em enfermagem médico-cirúrgica do IPO de Coimbra.
A primeira oradora, Luzia Garrido, enfermeira do CHU de São João, deu início ao seu discurso, referindo que “todos os cancros são genéticos” por surgirem a partir de mutações genéticas. Foram apresentados dados sobre o cancro do ovário hereditário e sobre os genes de suscetibilidade “BRCA”, que estão associados a um risco aumentado de desenvolvimento de cancro da mama na mulher. Alguns casos práticos e mediáticos de cancro da mama foram exibidos pela palestrante, que deu o exemplo de uma família com síndrome hereditária de cancro da mama e do ovário com mutação BRCA.
A especialista abordou a terapêutica de inibidores da PARP e a sua via de inibição, tendo dado o exemplo de algoritmo publicado pela equipa do IPO do Porto para a testagem de tumor somático e germinativo BRCA1/BRCA2 em doentes com cancro do ovário, bem como alguns casos práticos e tratamentos como as cirurgias redutoras de risco associada à variante BRCA. Em conclusão, a palestrante referiu que “está indicada a pesquisa de variantes BRCA1/2 no momento inicial do diagnóstico a todas as doentes”, particularmente variantes somáticas BRCA. E “se for identificada uma variante somática”, deverá ser oferecido o estudo da mesma a nível germinativo.
De seguida, foi conduzida por Sónia Ferreira, Enfermeira na unidade de ginecologia da Fundação Champalimaud, uma palestra com enfoque em imunoterapia no cancro do ovário, na qual foram analisados dados estatísticos referentes a recidivas em doentes com a denominada neoplasia. “A presença de TILs parece estar associada a uma maior sobrevivência”, sugerindo um efeito promissor desta terapia. Contudo, a oradora comparou os dados teóricos com os dados práticos, e demonstrou que a componente prática não suporta a teoria.
A imunoterapia com “check-point inhibitors” foi outro dos tópicos abordados pela oradora, como uma ajuda a impedir a inativação dos linfócitos T por parte das células tumorais. Os inibidores PD-1 e anticorpos monoclonais, como o bevacizumab, foram exemplos de tratamento imunoterapêuticos citados. A Enf.ª Sónia Ferreira mencionou alguns estudos comparativos de imunoterapia com quimioterapia, salientando as respostas “desapontantes” referentes ao anticorpo monoclonal nivolumab e mostrando que, mesmo após uma tentativa de melhorar o ambiente tumoral através de um estudo de combinação”, os resultados obtidos continuaram a não ser os esperados.
Por último, a palestrante discutiu o papel da imunoterapia no cancro do ovário, referindo que “os dados atuais sugerem que apenas o PD1/PDL-1 não é suficiente para alcançar resultados clinicamente relevantes”.
A fechar o conjunto de apresentações, Cristina Lérias, Enfermeira do IPO de Lisboa, focou-se no “Cancro do colo do útero: HPV, Prevenção e Rastreio”. Um estudo do contributo do tabaco para o desenvolvimento de cancro do colo do útero (CCU) foi apresentado pela Enfermeira. Como principais conclusões deste trabalho, a palestrante referiu que o HPV não é suficiente para o desenvolvimento do CCU, podendo o consumo de tabaco estar associado ao mesmo.
Houve ainda espaço para explorar alguns dos métodos de prevenção de CCU, como a vacinação. Segundo a oradora, além das raparigas, também os rapazes devem ser vacinados, particularmente “na infância, antes do início da vida sexual”. “A vacinação parece ter uma eficácia de quase 100% na prevenção de tumores malignos no colo do útero”, completou.
Sobre o rastreio do CCU, a Enf.ª Cristina Lérias sublinhou que este deve ser feito em mulheres com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos, sendo que “o teste primário é a pesquisa dos serotipos oncogénicos do HPV”.
Relativamente ao papel do enfermeiro, a palestrante afirmou que o mesmo deverá ser interventivo, quer na prevenção primária (vacinação), quer na prevenção secundária (rastreio).
Em jeito de conclusão, a Enfermeira realçou que “morre cerca de uma mulher por dia em Portugal” e, por isso, “cada intervenção conta para eliminar o CCU”.